sexta-feira, 22 de junho de 2012

As esquerdas e o pensamento crítico

"A esquerda dominou todo o meio intelectual". Essa frase pode parecer assustadora, incoerente, fora do sistema, mas condiz com o debate simples a que se reduziu o estado de espírito ocidental. Se na Europa (a criadora mãe da vertente política da qual falo) isso pode parecer mentira (em parte isso pode até ser um fato) e nos EUA alguns republicanos gostam de aparecer na Fox News para insultar os preceitos do socialismo enraizado no liberais democratas, na América Latina não há qualquer dúvida que o que se torce é o nível de esquerda a qual às pessoas se referem. São duas caricaturas do continente, não por coincidência, o Brasil e a Argentina.

Se, nem por sonho, Gramsci podia prever o triunfo da sua teoria depois da derrocada do socialismo europeu, hoje não só o meio intelectual é dominado pelo esquerdismo, mas a mídia, os movimentos civis e, enfim, a opinião pública. Isso não significa dizer que as pessoas se autointitulem bolcheviques prontos para a revolução ou aclamadores de uma república sindical, mas sustentam o status quo do esquerdismo com entusiasmo bufante. Brasil e Argentina são o exemplo, também não por coincidência, onde o "pensamento crítico" da massa entra em êxtase assistindo CQC ou - para o caso específico do nosso país - ouvindo os poéticos argumentos de Arnaldo Jabor, quando não as análises filosóficas de Marilena Chauí.

Podemos ver, basicamente, quatro vertentes da esquerda que brigam pelo poder na maioria dos países ocidentais: a esquerda clássica (revolucionária e ortodoxamente marxista, é representada por membros radicais da sociedade civil e, em pouca proporção, embora com muito barulho, por membros do campo político), a esquerda reformada (refutou Marx em alguns pontos - muito publicamente, embora pouco de fato -, representando os controladores dos movimentos sociais e da mídia alternativa, apossando-se de todas as instituições públicas enquanto sua matéria de experiência gramsciana), a esquerda verde (é muitas vezes denominada de eco-capitalista, embora o capitalismo para ela pode existir somente no limiar passado das prioridades da nova agenda global) e a esquerda nova (a qual todos reduziram, na falta de uma, à direita, em que o discurso da social-democracia foi mudado na tentativa de lhe dar um sustento econômico, chegando a algo próximo de terceira via ou social-liberalismo - para alguns autores tal termo pode ser chamado de liberal-socialismo, o que já nos facilita entender o sentido da ideologia). Podemos compreender, pois, que, enquanto as duas primeiras esquerdas são de fato socialistas (embora a segunda nem sempre assuma que é), as outras duas são psedo-socialistas, isto é, não são favoráveis ao socialismo objetivamente, tão pouco ao capitalismo de fato, mas ao mercantilismo ou ao capitalismo rumo a seus objetivos socio-ambientais.

No Brasil temos figuras políticas que preenchem com veemência todas as lacunas aqui citadas. A esquerda clássica, como é praticamente em todo o continente (esqueça-se os países ao qual o socialismo já é realidade ou quase uma), possui uma subrepresentação por líderes de alguns sindicatos, pelo MST e outras poucas ONG's e por partidos radicais, dos quais só possui representatividade o mais moderado deles, o PSOL. Como é fácil de constatar, após a exposição do horror socialista, as pessoas rapidamente se voltam contra qualquer propósito que elucide claramente uma revolução nesse sentido, leia-se mortes para a causa. Ingenuamente, essa esquerda não compreende o obsoletismo de sua estratégia e não oferece riscos reais, com exceção dos movimentos camponeses aliados a outras esquerdas, cuja significância parte justamente da estratégia dessas últimas. Sua composição não passa de meia dúzia de velhacos e alguns jovens sem boa formação política, de modo que sua subversão mostra-se irrisória à dinâmica da política e da economia nacionais.

A esquerda reformada, sem nenhuma dúvida, é a mais perigosa. Seu caráter modificado em relação ao passado de seus líderes faz crer a população de seu abandono da ideologia inicial na busca do esquerdismo democrático. Seu grau de descaramento chega a ser assustador e há um avanço pouco reversível das instituições após seu domínio. Nesse campo entra em ação partidos como PT e PCdoB, com destaque para o primeiro. Em nosso país já sentimos com bastante ênfase o aparelhamento das instituições de forma emblemática - passando por toda a cúpula das empresas estatais, pelos órgãos oficiais, por membros do judiciário (o menos afetado, no caso), pelos movimentos sociais e ONG's diversas, por alguns meios de comunicação, por praticamente todos os sindicatos e por parte da população e de suas casas de representação (o legislativo), que ficam acoados meio às violações constantes. Aqui já se tornou normal candidato dessa frente violar sigilo fiscal com a mais rápida aceitação popular.

No caso do movimento ambientalista, ou verde, deve-se fazer uma ressalva: não se nega aqui a importância da sustentabilidade, especialmente no tocante à base ambiental do tripé enunciado por esse compromisso, nem do pensamento ambientalmente responsável e deus defensores e militantes, mas se ataca exatamente aqueles que acreditam que um planejamento central bastante enrijecido pode auxiliar o mundo a dar conta dos problemas naturais que estão por vir. A cartada dessa esquerda é o aquecimento global - tema que no Brasil já se tornou oficialmente posicionado e que cujo o ataque significa algo como negar a gravidade ou pôr em dúvida a moralidade de seu embasamento. Como símbolo dos eco-socialistas (ou eco-capitalistas - não importa muito se o copo vai ser meio cheio ou meio vazio, se o resultado é o esvaziamento de todo o copo) tem-se bancadas inteiras de eurodeputados, a ONU, uma gama de ONG's e, não só aqui, o PV, aquele partido que discursa bonito mas nunca apresenta nenhuma proposta concisa, conclama chás solidários e contribui efetivamente para a ditadura do politicamente correto em que entramos, sendo assistencialista, contra todo tipo de discriminação, a favor da saúde e do bem-estar impostos como um sentido nato da vida humana. Sem perceber, os membros dessa facção tornam-se, basicamente, vendedores de Hebalife, cujas soluções concentram-se em seu produto saudável e o resto só são problemas mundanos sem importância.

Citando a última esquerda, não podemos deixar de incluir a parte da sociedade faltante. Se no primeiro caso ela é desprezível, no segundo caso ela é enganada com descaramento e no terceiro caso ela é composta pelos entusiastas de uma nova esperança, nesse âmbito insere-se a maioria das pessoas e, basicamente, toda a imprensa. O politicamente correto, típico de verdes e fitness, chega a uma classe de pessoas mais desconfiadas e que, ironicamente, se intitula de "centro" ou, minimamente, "de centro-direita". Os esquerdistas novos tem em seu símbolo nacional o tucano dos verdes e a social-democracia dos trabalhistas; em resumo o PSDB, ou algo próximo ao Partido Democrata nos EUA. Sua acusação máxima aos socialistas é chamá-los de direitistas e entrar com discursos do tipo "Lula apoia ditaduras teológicas no Oriente Médio, não podemos considerar isso uma atitude de esquerda" ou "o PT e o PDT corromperam o bom espírito de intenções da Internacional Socialista". Chamar um novo esquerdista de direitista é insultá-lo com um soco em sua barriga ideológica.

Na Argentina a situação encontra-se ainda mais dramática. Se no Brasil o debate significativo ocorre entre as três últimas esquerdas (de forma que a primeira é compreendida como centro-esquerda, a segunda como centro e a terceira como centro-direita), no país platino a redução chegou a um nível impensável, em que duelam a esquerda clássica (oposição, é a chamada esquerda argentina) e a esquerda reformada (governista, é a chamada "direita-peronista"). Se um gramciano pode ser apontado como direita, já podemos pressupor porque os argentinos conseguem estar piores do que nós sem maiores explicações, sem considerar que os peronistas de lá sejam mais espirituosos do que os petistas daqui, para não dizer coisa pior.


Nesse sentido é que o "senso crítico" esquerdista da qual minha geração foi completamente inundado encontra um problema. Percebe-se que sempre se parte de um pressuposto de combate de classes, ricos exploradores de pobres, políticos capazes de resolver todos os problemas do mundo, combate às opiniões não agradáveis, estatização de todas as áreas nativas. Nesse campo, o debate se reduz a algo do tipo "o Estado deve dar comida para as classes D e E ao invés de somente a E" ou "devemos proibir somente os esportes violentos na televisão, ao invés de todos" ou ainda "as escolas devem públicas devem ser gratuitas e de qualidade e eu considere que o MEC deva intervir nas escolas particulares para garantirmos um currículo mínimo até o ensino superior, em contrapartida a você que considera o ensino médio um bom ponto". Tente alguém criticar o Chico Buarque ou as leis inconstitucionais de clamor geral, tal que a Ficha Limpa, que logo será taxado de ignorante ou reacionário de caráter repugnante.


Por fim, o objetivo dessa reflexão é a compreensão prática das perspectivas de que esperamos. Se os esquerdistas clássicos podem ser subjulgados no tocante à incompetência de desmarginalizar suas ações, os pseudo-socialistas são um problema real em preparar o terreno para os socialistas reformados. Não por acaso essa é a situação vivida na nossa história após o governo FHC.


sábado, 31 de março de 2012

O estadismo que cria e culpa o liberalismo pela inflação

É bastante comum ouvir, inclusive no meio acadêmico, que o abaixamento de impostos traria um grande aumento na inflação, de forma que a aparente boa diminuição de taxas se desenrolaria como um "dragão" no futuro, comprometendo, pois, todo o desenvolvimento de um povo. Tal afirmativa é aparentemente verdadeira, mas não justificável, como tentarei demonstrar nesse artigo.
Primeiramente pontuemos nossa análise em três questionamentos: Quem diz que isso aconteceria? Por que isso aconteceria? E, como isso aconteceria? Antes de respondermos nossa pergunta, seria interessante, sob o ponto de vista de uma sociedade de mercado - na qual vivemos -, considerar que o valor das coisas é definido por sua escassez. Segundo Joseph Schumpeter, em History of Economic Analysis (Nova Iorque, 1954), os escolásticos tardios espanhóis identificaram os preços de mercado como qualquer preço concorrencial, considerando como preço de mercado o preço justo, como valor subjetivo. É bastante obvio, então, compreender que o ouro vale mais do que o cobre porque o cobre é mais abundante do que o ouro e, mesmo que uma pessoa prefira cobre a ouro, essa não pagará mais pelo primeiro em relação ao segundo numa negociação em condições normais. Tal noção significa a compreensão básica do capitalismo: demanda é diretamente proporcional aos preços e oferta é inversamente proporcional a esses.
Respondendo a primeira pergunta, não é nada comum que aqueles que atacam a diminuição de impostos, tais como muitos dirigentes do Partido dos Trabalhadores, ou boa parte do Partido Democrata, ou mesmo Paul Krugman, sejam grandes entusiastas do estadismo. Segundo sua ideia, a diminuição de impostos é uma irresponsabilidade, pois o Estado planeja a economia de forma a criar um pujante crescimento, apoiando-se, assim, na conhecida equação de produto interno bruto: PIB = gastos governamentais + investimentos + consumo + exportações - importações.
Dessa forma, considerando a filosofia central de John Maynard Keynes, é possível captar 40% do dinheiro das pessoas sem que isso afete o desenvolvimento delas, ou, pelo contrário, de forma que isso as auxilie a prosperar. Quem sente a mão pesada do Estado nesse momento, sabe bem quão mentirosa é essa afirmativa. Ainda que o governo gaste pouco e, portanto, o PIB cresça menos, o padrão de vida do povo é possível de ser elevado, uma vez que o cálculo desse montante é mascarado pelos gastos de uma instituição deficiente. Isso significa dizer que a afirmação de que a diminuição dos impostos gera inflação provém de cúpulas tais quais a da União Européia, de planejamento central e intervenção abrangente do Estado na economia - aqueles que aplaudem o confisco generalizado da renda populacional.
Atentando-se, agora, para os outros dois questionamentos podemos criar uma analogia em relação às eleições (de legislativas de 2010 às presidenciais de 2012) dos EUA. Embora seja ridicularizado pela mídia - do The New York Times ao Universo Online (UOL) -, o Tea Party tem ganhado notoriedade e, diferentemente do que se difama, não se trata de uma organização ultra-conservadora, mas puramente libertária. Significa o resgate aos nobres homens que se negavam a pagar seu dinheiro legalmente estabelecido aos colonos ingleses. Nada mais justo! A briga de imprensa com esse movimento nada mais é do que a briga dos estadistas com aqueles que iniciaram o conceito de capitalismo e liberdade. O que acontece, como demonstra esse caso, é uma visão generalizada de que a inflação é uma atividade que deve ser regulada pelo governo e, obviamente, na qual não há política liberal que possa ser aplicada sem que haja uma regulação forte do estadismo burocrata.
Simulemos a situação de uma sociedade de livre mercado. Se os impostos fossem dramaticamente reduzidos, haveria, com isso, um aumento significativo na renda de todas as pessoas, especialmente os pertencentes às classes econômicas menos abastadas, uma vez que menos dinheiro de seu orçamento seria destinado - sem sua vontade, diga-se de passagem - ao arranjo estatal. Dessa forma, o consumo seria aumentado intensamente, o que significa que haveria uma demanda crescente rapidamente, ou seja, uma elevação generalizada de preços, pois, como definimos, a demanda é diretamente proporcional aos últimos. Isso significa que haveria um grande aumento na inflação. Vejamos, contudo, que não diminuir os impostos com essa justificativa significa o mesmo que sustentar uma política absolutamente autodestrutiva. Significa impor uma regulação imoral, em que as pessoas são impedidas de consumir pelo governo por alguma finalidade social. Isso, porém, é uma farsa!
Uma vez que o mercado é mutável, a situação de inflação imediata é velozmente modificada. Com altos preços das mercadorias, dois acontecimentos se sucederiam. O primeiro seria um aumento intenso na produção, uma vez que o faturamento das empresas seria elevado apoiando-se em uma maior viabilidade de geração de produtos e maior estímulo dessa, o que aumentaria consideravelmente a oferta. O segundo seria uma diminuição no consumo, pois as pessoas ou não considerariam mais necessário o consumo de determinados produtos sob seu orçamento ou seria completamente impossível consumi-los, culminando em menor demanda. Assim, por ambos os acontecimentos, considerando a proporcionalidade definida inicialmente, os preços seriam reduzidos dramaticamente, o que seria o equivalente a uma situação de deflação.
Antes que os argumentos de endividamento generalizado e subida e decida de preços cíclica e, então, crítica, sejam inflamados contra a política de redução de impostos, é necessário dizer que por essas acusações é que o mercado rapidamente se regularia. Muitos, nessa época de deflação, não consumiriam menos, e, com isso, se endividariam. Sem considerar o mercado de créditos e bancos, essas pessoas não aumentariam seu consumo como haviam feito na primeira situação de renda avantajada. Com isso, o aumento da demanda nessa situação de preços baixos não seria tão elevada quanto no início, levando a um aumento de preços menor do que o ocorrente logo que os impostos fossem baixados, e a deflação posterior tomaria o mesmo rumo. Nos próximos ciclos isso seria ainda mais significativo, chegando a uma situação rápida de equilíbrio no mercado, em que os preços estariam em uma situação intermediária entre aquela quando os impostos ainda não tinham sido reduzidos e a inflação imediatamente posterior.
Pode-se concluir, pois, que, embora a inflação pudesse se comportar como problema a curto prazo, ela não seria um problema a longo prazo e, com a intermediação dos preços descrita, as pessoas teriam seu padrão de vida elevado, de forma que isso fosse uma vantagem social real. Isso leva à essência de justiça do capitalismo em seu florescimento.
Tudo o que foi enunciado sobre o efeito do abaixamento de impostos, todavia, não acontece efetivamente na prática, o que nos leva a refletir sobre a incoerência entre a lógica do mercado e a resposta das últimas duas perguntas iniciais ocorrente na realidade. Seria o mercado deficiente? O pensamento libertário de abaixamento de impostos seria muito ousado e irreal? Necessitamos, então, de alguma regulação para que isso ocorra? A resolução para essas três perguntas é só uma: não. De forma alguma o liberalismo causaria tal anomalia, pois aqui não consideramos uma variável muito importante: o monopólio governamental sobre o dinheiro.
Antes da criação do Banco da Inglaterra, em 1694, não havia qualquer regulação central do governo sobre o dinheiro. Esse banco, que foi fundado como instituição privada pelo escocês Willian Paterson, culminou, após sua concentração de poder de capital e posterior estatização, numa alta regulação da moeda produzido em todo o mundo. Tal qual o Federal Reserve (EUA), o Brasil possui um Banco Central (BC) que, apesar de gozar de certa autonomia do Ministério da Fazenda e da Presidência da República, imprimi dinheiro por meio de sua Casa da Moeda e não permite que ninguém mais o faça, obedecendo os interesses estatais.
Como sabemos, o Estado é uma instituição extremamente ineficiente. Considerando o fato da inexistência de estímulo sobre os burocratas, em que não há a busca pelo lucro como finalidade máxima, além do delírio de fabricar condições economicamente favoráveis à população de forma incessante pelos governantes, em busca de votos, os gastos costumam ser subestimados, ou mesmo propositalmente inflados. Nessa perspectiva, o Estado possui um desbalanço entre suas contas e sua receita maior do que nas empresas privadas, e a dívida estatal costuma crescer. No caso de Estados gigantes, tais quais os defendidos pelos intervencionistas social-democratas, a dívida costuma abrir "rombos" orçamentários de proporções dramáticas. Um exemplo claro é o governo de Barack Hussein Obama.
Partindo desse âmbito, numa situação de redução de impostos, a receita governamental rapidamente diminuiria, faltando dinheiro para o pagamento de dívidas estatais. Soma-se o fato de, ao fixar uma alta taxa de juros (algo somente possível com um Banco Central - que, por definição, é regulador), como faz o governo brasileiro, com a finalidade de contrair investimentos no país, o governo necessita pagar cada vez mais para sanar seus dividendos, o que se comporta de forma assimétrica com a receita. Assim, imprime-se mais dinheiro para se manter contas em dia. Mais dinheiro na economia significa desvalorização da moeda (diminuição da escassez do fator dinheiro) e isso pode ser encarado como uma definição alternativa de inflação. Acontece que, além de vilão, o governo passa a ser uma vítima no próximo mês do fato enunciado, necessitando imprimir mais dinheiro e, assim sucessivamente, gerando um ciclo vicioso.
Pode-se observar que a inflação duradoura que ocorre após o abaixamento de impostos ocorre, não porque o mercado possui uma falha, mas porque possui uma perversa regulação. Como solução à essa tirania evoca-se a Ludwig von Mises (sugestão, inclusive, do congressista republicano Ron Paul): permitir aos bancos produzir dinheiro e acabar com a intensa regulação feita pelo governo federal, com a extinção do BC. Nessa situação o governo não mais poderia interferir no valor da moeda e não poderia provocar a inflação e depois responsabilizar o mercado por isso. Necessitaria diminuir seus gastos para encontrar dinheiro para pagar suas dívidas. O Estado se enxugaria.
Temos, pois, quatro situações que podemos balancear nesse momento. A permanência da taxa de impostos, o aumento desses, a diminuição sem atacar o problema central e a diminuição unida à desregulação do mercado. Enquanto a primeira alternativa não demonstra piora ou melhoria na renda de vida das pessoas a curto prazo, embora a longo prazo estimule as crises econômicas, as outras duas situações seguintes são extremamente nocivas aos súditos da irresponsabilidade política. A solução proposta por esse texto, porém, leva a um inicial impacto positivo na vida de todo o povo, melhorando sua renda, com um posterior ganho social ao obrigar o governo a diminuir seu espaço. Tal acontecimento aumentaria em muito o capital privado, de forma que, com a diminuição do Estado, haveria uma realocação dos recursos públicos para os recursos particulares.
Nesse momento é que nos deparamos com algo bastante estimulante. O mercado não apresenta a ineficiência dos burocratas e, com a livre iniciativa acumulando o capital confiscado anteriormente pelo bem público, direciona-se um país para a satisfação das pessoas enquanto indivíduos, criando-se prosperidade. A solução para os problemas criados pela liberdade de troca é muito simples: proporcionar mais liberdade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Liberdade, um direito sagrado

"Agora fizeste o que é grato a meus olhos, cada um proclamando a liberdade ao próximo pela conclusão de um acordo em minha presença, na casa em que meu nome é invocado" (Jesus Cristo)

Não há direito mais fundamental ao homem do que a liberdade. É comum se ouvir que alguma ideologia, alguma religião ou alguma doutrina social é capaz de libertar um povo. Aristóteles, em seus postulados sobre a busca humana, explica-nos que não há forma de alcançar a verdadeira felicidade senão pela plena libertação da alma. Se a alma é libertada verdadeiramente por meio de valores como a ética, a fraternidade, o amor, o conhecimento e a religiosidade, a liberdade secular é importante por fornecer ao homem a possibilidade de exercer seu poder de escolha nos mais diferentes níveis, de seu íntimo religioso ao coletivo econômico.
Se, por alguma razão, aceitamos que a liberdade de alguém deve ser privada para que não infira na liberdade de outra pessoa (e isso é bastante razoável), aceitamos que algum mecanismo de violência possa ser sustentado na sociedade para a coerção de seus indivíduos. A realidade é que não é absolutamente nada provável que as pessoas se trancassem em uma cadeia ou cobrassem impostos de si mesmos se o Estado não existisse. Na realidade, isso não teria qualquer lógica se quer do ponto de vista prático, e isso se deve ao fato de a afirmativa de que "a sua liberdade termina quando começa a liberdade do outro" ser inerentemente falsa.
Contudo, há de se considerar que, apesar de o Estado ser um instrumento de violência, seu caráter não é inteiramente mal. Não se pode acreditar que o homem teria chegado a 7 bilhões de pessoas sem o Estado. Nesse momento tem-se, pois, uma inferência bastante óbvia: se não podemos destituir todo o tipo de violência praticada por uma instituição oficial, ao menos podemos diminuir seu poder a níveis minimamente seguros aos cidadãos.
É importante destacar que, embora haja uma típica confusão, não se fala aqui em democracia. A realidade é que a democracia - em boa parte do que vemos na prática - legitimou a violação das liberdades individuais em nome do povo. Isso não quer dizer que aqui se sustente algum outro sistema político que seja mais adequado. Considerando como alternativas os sistemas de oligarquia ou monarquia, a democracia é certamente o mais justo, pois o Estado sempre é produzido com o imposto de todos, de forma que não seria adequado permitir que uma pessoa ou apenas um grupo de pessoas tivesse o direito de decidir os cursos dessa instituição. De qualquer forma, como o Estado não pode ser mais poderoso do que a liberdade, uma vez que a violência não pode se sobrepor à felicidade, pouco importa o sistema político que se adota se não há liberdade individual.
Nesse âmbito, a necessidade de pontuar que o direito de liberdade individual (ou coletiva) não é algo necessariamente inerente à qualquer sistema democrático faz-se notória na realidade em que o mundo, ao continuamente legitimar as buscas pela igualdade e pelo poder popular (sem citar as Repúblicas que se autointitulam populares), produziu falsos conceitos de que o homem pode ser privado de direitos naturais simplesmente porque uma maioria assim decidiu. É nesse caminho que, mesmo sob sistemas democráticos, não se pode tolerar a retirada de um jornal de circulação porque isso supostamente é de interesse popular!
De forma oposta, o mercado não se baseia em violência e é por isso que liberdade econômica sempre é contrária a Estado poderoso. É nesse ponto que se entende que, assim como a liberdade de consciência e livre opinião são fundamentais, a liberdade econômica é a força motriz da sociedade de mercado - não é nenhuma surpresa que uma instituição de violência não seja capaz de, por si só, criar prosperidade.
Os críticos da liberdade em detrimento à diminuição dos poderes do Estado comumente se apoiam na filosofia errada de igualdade entre os seres humanos. Genericamente se baseiam em socialismo ou em corporativismo. Acreditam que as pessoas são sempre iguais e que o Estado, ironicamente, pode atuar desigualmente - segundo seu juízo - em proporcionar a igualdade entre os homens e os grupos de homens. Defendem, pois, a eliminação artificial de desigualdades. Proclamam leis que socializem a imprensa, promovem cotas raciais, tentam combater o preconceito por meio de legislações que punam àqueles que manifestam opiniões desagradáveis (não entendem que a liberdade de expressão aplica-se também aos deselegantes) e produzem taxações e distribuições de concessões de direitos a grupos determinados. No fim protegem um grupo em detrimento do outro.
Se observarmos o caminho desses críticos chegamos a uma manipulação oficializada da vida das pessoas. A eliminação de desigualdades caminha continuamente do campo econômico ao campo étnico ou político. Os grupos políticos ou as classes econômicas inconvenientes são eliminados ou reduzidos. Quando isso chega a um campo maior temos o nacionalismo exacerbado e de socialismo pode-se chegar a alguma forma de nacional socialismo. Eliminam-se, pois, grupos raciais inconvenientes.
Exemplos do fato enunciado no mundo não faltam. A violação da liberdade pelo Estado criou fatos notáveis em todo o mundo: a tentação de privar os cidadãos da liberdade de opinião criou o desastre cubano, a idéia de privar os homens da liberdade de consciência levou ao maior genocídio da história da humanidade na China sob Mao Tsé-Tung, a criação de mecanismos para promover a raça ideal levou ao holocausto nacional socialista, a tentativa de planificar a economia em detrimento ao mercado levou à morte de mais de 20 milhões de pessoas na União Soviética e a pretensão do governo de monopolizar a produção de dinheiro e de criar taxas de juros ilusórias por meio de seu Banco Central levaram às sucessivas crises no mercado (sem citar o planejamento que levou o Brasil à inflação de mais de 2000% ao ano ou a moeda de mentira que "afundou" a Europa).
Enquanto nos vierem com alternativas de justiça baseadas na socialização (ou mesmo democratização) dos mais diferentes meios e instituições sempre cairão na alternativa de ampliar o Estado a níveis alarmantes. E desse "socialismo" para a violência que atente contra os homens honestos que não buscam nada além de seu mais sagrado direito - o de liberdade - não há qualquer barreira.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A cultura que não existe

Desde o início de nossa redemocratização, ainda na década de 1980, suscitou em movimentos sociais e nas mais diversas centrais políticas que combatiam o militarismo o conceito de cultura brasileira laica. Em alguns momentos, não laica, mas umbandista, sambista, tropicalista. Tratava-se, obviamente, de afrontar os valores pregados pelas escolas por décadas. A questão ao ser levantada foi rapidamente repassada a todos os setores da sociedade civil, que já tinham os primórdios de negar uma cultura histórica denominada "burguesa" em nosso país. A propaganda comunista apegada ao termo "democratizar" de forma errônea, uma vez que os movimentos de guerrilha não eram democratas, havia surtido efeito e a mistura de sentimentos entre ampliar o acesso à educação e à saúde e em ampliar de forma desproporcional os desejos de alguns por meio do Estado era certa.
A cartada final foi dada pelo movimento da esquerda democrática do velho MDB e de alguns setores do PCB. O poder do novo PMDB no Congresso Nacional e o sucesso do sistema de vestibular nas universidades de todo o país (algo implantado já na década de 1970) puderam consolidar de forma intrínseca a sobreposição de valores em nosso país. O sucesso do PMDB significava o fim do poder político ARENA/PDS. O vestibular avivava os cursos pré-vestibulares, que explodiram nos anos 80, 90 e 2000, e passaram a mecanizar a história e as ciências naturais. A nova cultura era fácil de ser implantada.
O desafio de unificar o povo brasileiro em um só "Brasil", algo tentado com bastante ênfase entre as décadas de 1960 e 1980, surtia bastante efeito quando o maior sentimento esbanjado na Praça da Sé era a democracia liberal. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, Cazuza, Lobão, Maria Bethânia e outros eram as estrelas. Passamos a crer com mais veemência que nossa cultura não era cristã, era genuinamente sambista e umbandista, que toda nossa história havia sido construída por povos imigrados da África Ocidental, que comíamos feijoada todos os dias e essa havia sido inventada pelos escravos, que o berço de todo o Brasil era a Bahia, que todos amávamos o Rio, que a sociedade fraterna moldava-se com base em Zumbi dos Palmares, que o Carnaval resumia-se aos desfiles das escolas de samba, que Getúlio havia sido o pai dos pobres, que o Brasil era uma país amado em todos os continentes... e por aí foi-se.
A crença ainda parece nítida quando abrimos o jornal. A imprensa, de forma geral, ao reafirmar nosso "multiculturalismo" auxilia em destruir a política e cultura efetivas nacionais. A velha briga entre direita e esquerda mostra-se cada vez mais confusa. Nunca se viu direita mais esquerdista. O Carnaval chega e a Rede Globo rouba a cena para o sambismo tropicalista. Nossas crianças aprendem na escola as mensagens superficiais de Ziraldo no Ensino Fundamental e as análises rasas - para os que tem alguma filosofia na escola - de Marilena Chauí. Olhamos para a Academia Brasileira de Letras e temos vontade de chorar. Somos obrigados a engolir a reforma ortográfica.
Sem perceber os jovens de classe média tornaram-se uma burguesia folclórica, que culpa a Veja por alienação, critica o Big Brother Brasil, mas delicia-se com cabeças sendo esmagadas por postes, fala que Igreja é coisa de fanáticos e se considera libertada. Seus pais, discordam na hora de discutirem, mas tomam o devido cuidado, quando questionados em local público, em reafirmar nossa cultura laica, sambista, abortista, multiculturalista. A incoerência de tais atitudes passa despercebida porque o brasileiro acostumou-se a aceitar as definições que lhe dão. Nosso povo entende como cultura brasileira a definição rotulada pelo Ministério da Cultura.
Curiosamente o aborto entra em questão eleitoral e surte reações reais, setores inteiros reagem contra a retirada de imagens dos espaços públicos e então lembramos que não somos ateus, que suportamos a diversidade e por isso mesmo nossa cultura é mais complexa do que o governo costuma tratar. Entendemos que os quilombolas não representam todos os negros e pardos (aliás, representam fatia muito restrita), que não somos amados em todo o mundo e que o mundo se abomina com nossas práticas de corrupção e impunidade. Chegamos em casa e não estamos ouvindo samba, temos saudade das marchinhas de Carnaval, não comemos feijoada todos os dias - e tão pouco ela foi inventada por escravos -, rezamos para Nossa Senhora Aparecida, não damos importância para as obras de Zumbi dos Palmares (que são, de fato, mais conto do que verdade), lembramos de nossos antepassados imigrantes europeus. Muitas vezes não preservamos qualquer tradição baiana, além de ouvir Ivete Sangalo quando canta na Jovem Pam. O samba, para quem não sabe, nasceu em São Paulo.
Enfim, desanimando aqueles que crêem nesta cultura brasileira que vemos na TV, entendemos de uma vez por todas, ainda que pareça inconveniente para alguns, que esse país não tem um só ritmo de música característico, que o Rio não é o sonho de todos e que a sociedade brasileira é cristã, "americanizada"e não dá a mínima para o Menino Maluquinho.


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

No Brasil nada se pode saber, nada se pode falar!

Quando Barack Obama lançou sua pré-candidatura ao Partido Democrata nas prévias das eleições presidenciais de 2008, que acabaria por derrotar Hillary Clinton, mesmo com um estranho acontecimento na Flórida, e John Edwards, que renunciou antes de terminar a disputa, uma pergunta suscitou em alguns setores - minoritários - da mídia: seria ele um queniano? Ninguém deu importância, e continuaram a dizer que ele nascera no Havaí. Foi-se a eleição no fim do ano, e ele teve de aguentar a conservadora e estrela do futuro movimento Tea Party, Sarah Palin (RP), questionar seus viés ideológicos e sua biografia. Obama ganhou o embate e até hoje o que se tem de seu nascimento como prova é uma certidão de nascimento resumida e estranhamente aceita como documento oficial pela Suprema Corte do país.
Para ser presidente dos EUA, assim como para ser presidente do Brasil, o ocupante do cargo deve ter nascido no país, ou seja, ser estadunidense nato para os EUA e brasileiro nato para o Brasil. Pessoalmente não desconfio de que Obama não seja nascido no Havaí, mas a impossibilidade de não podermos investigar seus registros genuínos é bastante curiosa. Nada se sabe do passado de Obama, assim como nada se sabe do passado de Dilma Rousseff. A presidente eleita é aclamada em todo o leste europeu como búlgara; puro mal-entendido?
Obama ganhou a eleição vangloriado por ser o primeiro negro da história, Dilma a primeira mulher. Porém, mais do que isso, a semelhança entre os dois se dá em não termos detalhes de sua história. O que se sabe de Dilma é que nasceu numa família de classe-média alta, morou em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, participou de movimentos de guerrilha armada, VPR e VAR-Palmares, estudou economia e foi apontada por Lula dentro do Partido dos Trabalhadores como sua sucessora. Nada além disso. Nenhuma investigação em ser búlgara ocorreu e não se sabe, de fato, qual sua verdadeira face nos movimentos terroristas durante o Regime Militar. Dilma matou alguém? Assaltou alguém? Tudo é um mistério.
O jornal búlgaro Dnevnik apresentou uma certidão de nascimento de Dilma em seu país. Não podemos dizer que a certidão é verdadeira, embora os jornais do Brasil já tenham - os que deram importância ao caso - constado que é falsa sem uma real investigação. A mídia na Bulgaria acompanhou a eleição com bastante fulgor, e boa parte dela anunciou após o término da apuração dos votos que uma búlgara administraria uma das 10 maiores economias do mundo. A investigação por parte de nossa Justiça Eleitoral simplesmente não aconteceu.
Em relação à Revolução Militar todos os documentos, portanto algo maior do que as ações de Rousseff, não foram abertos para que possamos de fato verificar o que aconteceu nesse período. Como boa parte de nossa classe política é formada de pessoas que combateram o regime, é extremamente interessante para elas que tenhamos somente dessas pessoas a visão pronta e automatizada de que foram contrárias a um mal maior, ao invés de realmente apurarmos seus papéis dentro do jogo histórico. O que aconteceu no Regime Militar, por parte da direita e da esquerda, é um mistério. Não podemos investigar o passado de Dilma, não podemos constatar as acusações feitas contra Paulo Maluf e Romeu Tuma, nem mesmo verificar o verdadeiro papel da guerrilha armada financiada pelo Partido Comunista Cubano antes mesmo da deposição de João Goulart.
As investigações não param por ai. Não há, por exemplo, uma CPI instaurada no Brasil que observe as verdadeiras intenções do Foro de São Paulo, bem como da ligação clara e conhecida entre o PT e as FARC. Segundo documentos da revista Cambio, da Colômbia, os computadores apreendidos de Raul Reyes, membro do movimento, pelo governo colombiano mostraram sua ligação com membros do PT, em que cita nominalmente José Dirceu, Roberto Amaral, Gilberto Carvalho, Erika Kokay, Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia, Perly Cipriano, Paulo Vannuchi e Selvino Heck, sendo o último um assistente pessoal do presidente Lula. Todos os documentos tiveram sua autenticidade comprovada pela Interpol.
Além disso, mesmo sabendo dos assassinatos, seqüestros e tráfico de entorpecentes do movimento, Marco Aurélio Garcia, em entrevista ao jornal Le Fígaro, declarou que a gestão petista era "neutra" quanto ao caráter terrorista das FARC. Ainda na Casa-Civil, Dilma assinou uma requisição para que a mulher de Olivério Medina, representante da organização no Brasil, fosse trabalhar no Ministério da Pesca, de forma que ficasse perto de seu cônjugue, que estava preso em Brasília. Além dessas provas, ainda pesa a acusação feita pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) do pagamento das FARC de 5 milhões de dólares para campanhas do partido em questão. Mesmo assim, nada foi apurado pela Polícia Federal e a candidatura de José Serra ainda foi censurada pela Justiça por declarar a ligação aqui ilustrada.
O jornal O Estado de São Paulo foi censurado há mais de 500 dias em relação a noticiar as investigações da polícia sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado Federal. Isso é mais uma face da forma como a liberdade de imprensa é coibida em nosso país. Agora também tentam intimidar a liberdade de opinião com o Projeto de Lei 122/06 que tramida no Congresso Nacional sob o pretexto de combater a homofobia. No artigo 7° é redigido em relação à discriminação "sobretaxar, recusar, preterir ou impedir a locação, a compra, a aquisição, o arrendamento ou empréstimo de bens móveis e imóveis de qualquer finalidade", o que significa que não é mais o proprietário dos bens que lhes dá destino conforme sua conveniência, mas o Estado que faz suas determinações. Nesta parte da lei a questão fica ainda mais difusa: "se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero, ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiências".
A última citação da lei é especialmente perigosa por o termo "injúria" consistir em aspecto bastante amplo, como demonstra a gama de artigos anteriores. Podemos fazer uma analogia com o "sucateamento", termo utilizado de forma ampla por alguns servidores públicos e líderes sindicais. Ao se referir à religião, por exemplo, passa a ser crime qualquer demonstração que o faça acreditar que sua religião é mais própria, o que consiste em um ataque à liberdade religiosa. Outro ponto é: para um transexual, por exemplo, chamá-lo pelo nome de nascimento é injúria? Vemos que a forma inexpressiva como a lei se encontra abre espaço amplo para que o Estado possa determinar qual deve ser a opinião e percepção de cada contribuinte sob a justificativa de combater a discriminação.
É impressionante como aqui cada vez mais investigar os homens que administram o Brasil é proibido, em um país onde o Estado repetidamente quer interferir na nossa vida privada.





sábado, 8 de janeiro de 2011

Verão de país tropical

Nosso país, como é conhecido internacionalmente, é um país de clima tropical. É mais do que claro que essa é uma aproximação grosseira de nossas condições físico-naturais, uma vez que possuímos de forma expressiva em nosso território também os climas semi-árido, equatorial e semi-tropical. De qualquer forma, com excessão do clima tipicamente sertanejo, podemos inferir algumas generalizações. Nós, brasileiros, possuímos, em maioria, um verão bastante intenso, regado por chuvas. Agricultores de todo o país festejam os períodos chuvosos, unidos à maior incidência solar, que melhoram a taxa de fotossíntese e aumentam de forma bastante significativa a produtividade das lavouras.
Mas, além dos benefícios citados, o período "das águas" costuma, quando munido de chuvas muito intensas, causar estragos, para ser generoso, um pouco previsíveis. A falta de planejamento urbano, por exemplo, leva-nos a assistir todos os anos as mesmas cenas. Vemos nos noticiários "choveu tantos milímetros... minha nossa!" e ainda nos espantamos. A verdade é que isso acontece todo ano, de forma comum, banal. Aliás, desmintam vocês mesmos àqueles que surrupiam as mentiras dos anos atípicos, porque, afinal, em algum aspecto, se não em sua maioria, todo ano é atípico!
Em um ano chove mais ou menos, esquenta mais ou menos, venta mais ou menos. E o mais curioso é que isso não tem, absolutamente, responsabilidade humana. Somos irresponsáveis, imediatistas, poluidores, mas, convenhamos, quem somos nós pra mudarmos o clima global de um ano para o outro? Nessa questão, é que devemos começar a desmistificar muitos mitos, em especial, grandes mentiras. Não temos, por exemplo, aferições meteorológicas suficientes para dizermos que o aquecimento global é provocado pelo homem e, segundo grandes e respeitados pesquisadores do país e do exterior, até mesmo não temos certezas sobre esse aquecimento. As questões tidas como oficiais, muitas vezes, não passam de grandes convenções. O Dr. Timothy Ball, renomado cientista, descreve uma uma vivência em que diz: "Infelizmente, a minha experiência mostra que as universidades se tornaram dogmáticas e repressivas dentro de nossa sociedade. Essa posição tem-se vindo a tornar cada vez pior na medida em que elas recebem cada vez mais subsídios governamentais para defenderem o ponto de vista oficial". A campanha global ainda envolve, por exemplo, Richard Lindzen, físico da atmosfera e professor de meteorologia do renomado MIT.
A questão do aquecimento global, é - e entendam que não expressa exatamente uma conclusão minha sobre o assunto - apenas uma ilustração das posições ideológicas e, muitas vezes, não verdadeiras, que ouvimos em relação à climatologia. Muitas outras questões no campo das ciências naturais podem ser ainda mais esclarecidas. Por exemplo, as falácias de produtividade e fertilidade de nossos solos. É justamente porque somos um país de clima tropical que nossos solos são menos produtivos e menos férteis a priori do que os solos da Europa e dos EUA. A falácia é fácil de ser professada quando vemos a posição da qual nosso país ocupa no cenário agrícola mundial, bem como as famosas frases de imigrantes e mesmo de Pero Vaz de Caminha na Carta certidão de nascimento da Ilha de Páscoa, parecidas com "nessa terra, tudo que se planta dá".
Entendam os enganados que o verão de país tropical gera uma grande intemperização das roxas e decomposição da matéria orgânica, uma vez que nosso sol e nossa chuvas são mais intensos, diminuindo a capacidade de troca de cátions (íons positivos) e, portanto, resultando em uma agricultura, a grosso modo, mais pobre. Entendemos, pois, que a alegação difundida é extremamente mentirosa.
Nossa posição no cenário global agropecuário se diz respeito ao nosso investimento em pesquisa de ponta, resultante de importantes universidades, empresas e centros de pesquisa, em que podemos citar na área não-acadêmica a EMBRAPA e o Instituto Agronômico de Campinas. As inovações presentes a partir da Revolução Verde, tão demonizada por aqueles que não entendem absolutamente nada de produtividade agrícola, tão menos da necessidade da expansão da oferta de alimentos, é a grande precursora para que tenhamos avançado tanto. A calagem e as novas variedades de vegetais permitiram que plantássemos no Centro-Oeste como nunca se imaginou em nossa história! Além disso, devemos comemorar com êxito as conquistas de nossas empresas alimentícias e mesmo das multinacionais do setor.
Outra falácia, por exemplo, é que terras do Sertão são inférteis, o que é exatamente o contrário da verdade, uma vez que a falta de chuvas diminui o intemperismo. Pior do que tais alegações, só as generalizações que querem uniformizar um país não "uniformizável", com cultura diversa, origens étnicas muito diferentes, solos muito variados, dentre outros. Há gente, inclusive, que acredita que o café não é mais uma cultura importante a nível nacional, bem como que pensa que toda agricultura orgânica é sempre 100% isenta de qualquer agroquímico.
A mania do homem de se apegar aos paradigmas que lhe parecem convenientes ou oficiais é realmente impressionante. Mas, mais importante do que desmistificá-los, está a mudança de nossa cultura humana a todos os níveis. Afinal, acredito eu que assim, possamos curtir com mais gosto e sabedoria nosso verão de país tropical.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Eugenia também é questão de saúde pública?

O aborto é uma prática muito difundida ao longo do mundo. Sua discussão envolve sempre a ação de movimentos feministas, ideologias políticas e questões morais, civis e éticas. Mas, afinal de contas, já é momento de legalizá-lo amplamente por todo o país? Podemos (e devemos?) entendê-lo como questão de saúde pública? E, por ser questão de saúde pública, é justificável sua prática?
Tal discussão veio com grande força durante o segundo turno da eleição presidencial do ano passado, quando bispos da Igreja Católica combateram a candidatura abortista da petista Dilma Vana Rousseff. O Partido dos Trabalhadores, em seu programa de governo, deixou bem clara sua posição de descriminalizar o aborto, ainda que a ex-ministra tenha rebatido as críticas. Ela própria é uma abortista convicta que deixou clara tal alegação quando participou do governo Lula; contribuindo o fato de ser ex-membra da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), organizações de guerrilha que visavam a implementação da Ditadura do Proletariado no Brasil. Como é sabido, todos os Estados socialistas que existiram na história, sem qualquer exceção, descriminalizaram o aborto de forma ampla e irrestrita.
Na terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), assinada pelo ex-presidente Lula, há uma clara citação para a plena legalização da prática do aborto, como podemos verificar no inciso "g" das ações programáticas do 3° objetivo estratégico da 9ª diretriz do plano, em que se deve "considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia de acesso aos serviços de saúde", com o posterior objetivo explicitamente redigido: "recomenda-se ao Poder Legislativo a adequação do Código Penal para a descriminalização do aborto". Pessoalmente, concordo que isso não é exatamente tema de campanha para presidente da República, mas a discussão leva-nos a refletir de fato sobre a questão de uma possível legalização da prática e sobre nossas posições pessoais quanto a isso.
Primeiro devemos responder a segunda questão feita no início desse texto: o aborto é questão de saúde pública? Para essa resposta, entendamos primeiramente o que é saúde pública, algo que, de forma bastante complexa, é tema de bastante controvérsia, como demonstra Fernando Molinos Pires Filho no terceiro volume do Caderno de Saúde Pública. Ainda assim, afim de não nos estendermos nisso, podemos definir tal expressão, segundo o Dicionário Michaelis, como "arte e ciência que trata da proteção e melhoramento da saúde da comunidade, pelo esforço organizado dos poderes públicos e que inclui a Medicina preventiva e diversas formas de assistência social". Podemos observar que a questão do aborto, como demonstra a própria idéia do PNDH-3, é descrita em relação à assistência social.
Segundo estimativas do Ministério da Saúde, morrem no Brasil, devido à realização de abortos clandestinos, quase 70 mil mulheres por ano. Isso significa, por lógica dedutiva, que 70 mil nascentes (como são denominados os seres-humanos em desenvolvimento no corpo materno por nossa Constituição Federal) morrem igualmente a cada ano. Assim, a Lei deve proteger os nascentes ou suas mães? Nessa perspectiva, a questão de saúde pública mostra-se difusa, uma vez que a permissão do aborto requer obrigatoriamente a tolerância do Estado para com a morte de nascentes por prática consciente de seus geradores.
Ainda assim, se não considerarmos nascentes como humanos protegidos pela Constituição, numa suposta questão legal, e o aborto for considerado uma questão de saúde pública, não poderíamos entendê-lo como prática conseqüente de forma natural. A eugenia da Alemanha nazista, que horrorizou o mundo, tinha uma atitude bastante peculiar que é fundamental para os seguidores do Nacional Socialismo, a política racialista. Tal questão extrapola-se ao racismo simplesmente e descreve como "saudável" a não mistura de pessoas com origens étnicas diferentes. Atentando-se às questões recorrentes do rascimo no mudo atual, eu pergunto, portanto: o racialismo é questão de saúde pública? E igualmente, "a morte de crianças com deficiências físicas e mentais, que desmobilizam a sociedade e agonizam sofrimentos próprios com seu crescimento, deve ser encarada como questão de saúde pública?"
O horror que tais alegações tenham provocado no leitor nos leva a seguinte reflexão: a visão de algo no dinamismo da saúde pública não pode simplesmente nos levar a acreditar que sua prática é tolerada. Isso se deve, de forma fundamental, à Ética Universal e ao respeito aos seres-humanos enquanto indivíduos. Respondemos assim, mais uma questão. Uma nova pergunta então a ser feita seria exatamente o que é um ser humano e quando a liberdade desse sobressai à liberdade de sua mãe.
É muito comum ouvirmos que o aborto é um direito da mulher, uma vez que diz respeito a seu próprio corpo e, portanto, à sua liberdade individual. Acontece que, tal alegação é claramente uma falácia, uma vez que cientificamente, além de se considerar as questões religiosas pessoais, o embrião, feto ou bebê é um corpo independente e, portanto, não incluso na gama de direitos que devem ser compreendidos como liberdade individual. Igualmente, podemos verificar que os métodos anti-concepcionais, tão difundidos pela mídia e pelo governo, bem como a pílula do dia seguinte, ainda que podendo ser reprovada por decisão individual, garantem a um futuro abortista sua plena prevenção contra a formação de uma vida, seja ela compreendida a partir do período de nêurula ou desde a concepção (como eu, pessoalmente, acredito).
Estatisticamente, a grande maioria dos abortos é feita quando já há tubo neural em fetos, o que, obviamente, resulta em uma violência sem tamanho, somada ao fato de esse ser-humano não poder se defender. Para aqueles que ainda não se convencem de que esses seres são vida humana, pergunta-se, pois: como você pode determinar o que é vida humana? Olavo de Carvalho nos dá uma excelente visão de tal fato, ao demonstrar que a prepotência de uma pessoa em relativizar a vida a seu ponto de vista abre espaço para o movimento de eugenia, uma vez que se não consideramos um feto como vida, podemos então fazermos o mesmo para quaisquer classes que tenhamos interesse.
Ainda que não consideremos todas essas questões como justificáveis para alguns casos extremos, tais como risco à vida da mulher, estupro e anencefalia (temas dos quais não modificam minha posição), devemos lembrar que nessas condições a prática é permitida por lei. Assim, desmistificando que esse assunto ocorre estritamente sob perspectivas religiosas, pode-se concluir que sua abrangência se dá em grande parte no campo da Ética e da filosofia. De qualquer forma, porém, podemos supor, sem partirmos para essa perspectiva, a base dos motivos pelas quais as mais variadas religiões do mundo são contrárias à prática debatida. E, por fim, respondo a primeira pergunta enunciada nesse texto, assim como mais de 70% da população brasileira. Não, não é hora de legalizar o aborto de forma irrestrita.